terça-feira, 2 de junho de 2009

GM

Não há como deixar de escrever algo sobre a notícia que muito provavelmente mais abalou o universo automobilístico nos últimos tempos, e que ainda irá repercutir, afetando a história daqui para frente: o pedido de concordata da GM.

Antes de mais nada, é preciso entender o que é a GM: o conglomerado General Motors foi fundado em 1908, em Detroit - Michigan, pólo global e referência no desenvolvimento de veículos. Atualmente detentora ou com participação nas seguintes marcas: Holden (australiana), GMC, Cadillac, Buick, Vauxhall (inglesa), Chevrolet, Daewoo e Saab. Durante esse período, anunciou a venda da Opel, subsidiária alemã, Saturn e o fim da Pontiac. Para a grande maioria dos brasileiros a maior representante da marca no Brasil é a Chevrolet, além de alguns veículos GMC, principalmente utilitários.

Agora vamos entender o que a GM representa: com todas essas marcas, ela possuía representantes em praticamente todos os segmentos automotivos, desde pequenos e compactos veículos até os grandes e polêmicos beberrões de combustível, os SUVs e pickups. Foi líder mundial de vendas de veículos no período de 1931 a 2007, sendo superada pela Toyota em 2008, quando já estava bastante afetada pela crise mundial. Para nós brasileiros, é a marca por trás de Vectra, Astra, Blazer, Opala, Monza, Corsa, enfim, diversos modelos que já fizeram ou ainda fazem parte da wish list de diversas pessoas.

O que faz uma empresa sólida, líder mundial durante 70 anos, chegar ao ponto de solicitar intervenção estatal em suas operações, precisando de dinheiro do governo para não desmanchar? Ok, temos a crise mundial, que afetou gravemente todos os ramos, em especial o automobilístico e imobiliário (nos EUA); é uma reação em cadeia, uma vez que a indústria automobilística movimenta diversos setores, desde siderurgia, fornecedores de auto-peças, até áreas de marketing e propaganda. Tudo desencadeado pelo excesso na oferta de crédito, enfim, o início deu-se em meados do ano passado e tudo o que estamos passando agora teve origem lá.

Tudo, exceto a atual posição da GM. É claro que a crise contribuiu bastante, não vamos tirar seu 'mérito', mas o que mais arrastou a Great Mother para a vala em que está agora foram falhas. Falhas vindas do alto. Não, não as divinas, embora apenas uma intervenção deste tipo a salvaria; falhas do board, dos dirigentes, responsáveis por decidir os rumos, adotar estratégias que fizessem com que a empresa se destacasse perante as demais. E neste quesito, falhas estratégicas são inadmissíveis, com conseqüências catastróficas. Convenhamos, seus rendimentos são elevados, 'n' bonificações e benefícios como automóveis e jatinhos (??), mas tudo tem seu preço: falhas são inadmissíveis. Os benefícios nunca são demais se o trabalho for bem feito. Não foi o caso.

Os americanos se orgulham muito de seus grandalhões. Certa vez, assistindo o DVD do show do ventríloquo Jeff Dunham pude perceber isso: Jeff foi ovacionado pela platéia ao dizer que, diferentemente de sua esposa que possuía um Prius, ele tinha um Hummer. E que constantemente precisava tirar o Prius da grade dianteira do Hummer. É difícil para nós, que não temos tamanha identificação com nossas marcas, imaginar tal situação encontrada por eles hoje.

Entretanto os tempos mudam; as necessidades de hoje são muito diferentes das de 10 anos atrás. Veículos eficientes, menos poluidores, compactos estão em foco. Até mesmo superesportivos estão se adaptando, como o Tesla elétrico. Coisas que deveriam ter sido vistas, analisadas e levadas em consideração a, pelo menos, 5 anos, por pessoas que têm a obrigação de fazer isso. Isso é estratégia, direção, decide os rumos que determinada empresa deve tomar. E também seu futuro, como estamos infelizmente presenciando agora.

E em relação ao Brasil? A situação aqui pode seguir 2 caminhos completamente antagônicos: devido à nossa autonomia, conquistada através de décadas de tropicalização e mão-de-obra barata, possuímos um centro de desenvolvimento global situado em São Caetano do Sul, responsável pelo desenvolvimento de plataformas de pickups para toda a corporação GM. Além disso, desenvolve-se lá veículos que serão utilizados no mercado local, tais como nossos populares, além de tecnologias antes exclusivas, como a Flex. Em suma, global e pontual. Dada a grande autonomia conquistada, aliada às dificuldades da matriz, o Brasil pode se destacar e muito dentro da corporação. A maioria dos lançamentos brasileiros era baseada em veículos Opel; agora, sem o braço alemão, resta aos brasileiros partir para o desenvolvimento total do veículo, ou adotar projetos de outras subsidiárias. Ou ainda ser vendido, opção pouco provável devido aos altos lucros obtidos. Vamos esperar para ver como a história seguirá.




Nenhum comentário:

Postar um comentário